sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Elucubrações

Às vezes eu tenho a impressão que a vida é como uma viagem no tempo!
Levando em consideração os anos em que era jovem, eu me sinto como se minha vida fosse uma viagem para o futuro! Quanta expectativa, quantos sonhos eu tinha então para quando os dias em que vivo agora chegassem.
Minha geração passou por grandes mudanças. Houve muitos progressos na medicina. As mulheres começaram a sua jornada de libertação, pelo menos no Ocidente. A pílula foi um grande avanço. As comunicações deram um salto com os satélites geoestacionários, colocando o mundo todo em contato instantâneo, com o som e imagem diretas sendo acessíveis a todos os países. Nós vimos o homem caminhar na Lua. A medicina avançou com vacinas, antibióticos e tratamentos para doenças que até então eram sentenças de morte certa.
Lógico, havia os problemas também: fome endêmica na África, ditaduras brutais na América Latina, guerra do Vietnã. Mas a juventude era inconformada. Como nos esquecer dos hippies, dos protestos contra a guerra nos EUA, da luta contra as cruéis ditaduras. Quantas vidas se perderam, mas, no fim a guerra acabou, as ditaduras caíram e, finalmente, até a guerra fria terminou, com a queda do muro de Berlim e o fim da União Soviética. Bem, eu e, acho que todos da minha geração, sonhávamos que o mundo melhorasse. No campo da tecnologia espacial, eu tinha certeza que veria a chegada do homem a Marte, que haveria o fim da fome no mundo, a cura do câncer, da malária e da  AIDS. Mas, aos 62 anos vejo que as coisas não se passaram bem assim. A desilusão com o fim do socialismo real, e a hegemonia do neoliberalismo nos anos 90 acabaram por transformar os jovens em alienados ou desiludidos. Os países europeus e os EUA entraram em decadência porque ao perder o inimigo comunista não conseguiram prover o mundo com nada melhor do que um brutal avanço das injustiças sociais, beneficiando os grandes grupos financeiros e os agiotas multinacionais. O contraponto a esta situação foi o fortalecimento da economia chinesa que tornou-se a locomotiva dos chamados países emergentes, em especial os chamados BRICS. 
A grande novidade tecnológica dos anos 90 e atuais foi a informática e as telecomunicações. Nunca, nem nos  mais fantásticos sonhos eu, aos 18 ou 20 anos, poderia imaginar que existiria alguma coisa como a internet. A navegação por GPS, para qualquer pessoa da classe média, que eu saiba não foi prevista nem pelo mais imaginativo escritor de ficção científica. Para ser justo, o telefone celular foi antecipado que eu me lembre, no seriado "Jornada nas Estrelas". Entretanto a fome na África e outros lugares do mundo continua, o homem não voltou a Lua desde a década de 70, o câncer, em geral, não tem cura, nem a malária ou a dengue. O Brasil é uma democracia, em construção ainda, mas longe de ser uma ditadura. Passamos de devedores a credores do FMI. Um operário e, depois, uma mulher foram eleitos presidentes da república no nosso país. Apesar de muitos países terem a Bomba, ninguém mais vive o pesadelo de uma guerra nuclear total.
Ademais, aqui e ali, surgem vozes contrárias às injustiças terríveis do capitalismo selvagem. Hoje mesmo, nos Estados Unidos, acontecem manifestações contra a transferência de dinheiro da maioria dos estadunidenses para os tubarões de Wall Street. Há uma luzinha no fim do túnel.
Eu, pessoalmente, não tenho esperança de ver injustiça social terminar no mundo. Mas, quem sabe meus filhos ou netos possam ainda viver num mundo melhor que o meu.