domingo, 20 de janeiro de 2013

Pobres pedestres

Todos os dias vou a meus compromissos, basicamente, de carro. Aqui, em Campinas, já temos problemas de congestionamento, lentidão, vias esburacadas e outros  típicos de uma grande cidade. Claro que, diferentemente de São Paulo, esses problemas são pontuais e ocorrem somente nos horários de pico, e numa intensidade ainda suportável e o carro é a melhor opção de ir e vir.

Nunca gostei muito de praticar esportes, correr ou, mesmo, caminhar. Claro, que essa vida sedentária, aliada a uma alimentação não muito saudável cobrou seu preço: fiquei um pouco acima do peso, com aqueles colesteróis e triglicérides todos e, pior de tudo: hipertenso!

Depois do susto de um cateterismo e da condenação à medicação pelo resto da - espero que longa - vida, fui instado pelo meu médico a fazer caminhadas regulares para o bem da minha saúde. E é o que faço,  não com a frequência recomendada, preferencialmente no clube perto de casa.

Hoje, por uma condição extraordinária, o carro da família ficou com a esposa que foi à feira de artesanato, onde vende seus trabalhos de porcelana. Como a feira não é muito longe de casa, resolvi ir me encontrar com ela a pé. Iria unir o útil ao prescrito. Foi então que constatei que, realmente, as cidades brasileiras não foram feitas para os pedestres. 

As calçadas (passeios) são heterogêneas. Como são de responsabilidade de cada dono de imóvel, cada um faz a sua do jeito que quer, isso quando faz. Algumas são bem feitas, com superfície plana e espaço para se caminhar, mas a maioria é mal conservada, com piso irregular, buracos e pedrinhas soltas.

 Ah, essas calçadas de pedras portuguesas! Acho que só em Copacabana e Lisboa elas são bonitas e bem conservadas. Aqui, elas estão todas com pedras faltantes, remendos horrorosos e sem nenhuma uniformidade.

 Constatei que Campinas têm muitas árvores! A maioria imensa, com raízes gigantescas que tomam quase todo o espaço do passeio. Então, você tem que ir para a rua, disputar o espaço como os carros e as motos! Eu acho lindas as árvores. Plantei em frente de minha casa um lindo ipê-amarelo e uma dama-da-noite. São lindas, perfumadas e não atrapalham o espaço de ninguém. Na verdade, o gramado onde elas estão plantadas é muito bem adubado pelo cocô dos cachorros que saem a passear com seus educados donos!

Mas, o problema, não acaba aí. Existem os cruzamentos. Todos eles têm faixa para pedestres. Muitos reclamam que ninguém respeita a faixa de pedestres. A maioria até que procura respeitar. Mas a questão não é essa. O caso é que os semáforos são feitos para os carros. Existe uma rotatória famosa em Campinas, chamada Balão do Castelo. É que, no centro dela, fica uma antiga caixa d'água desativada que é um observatório de onde de se vê grande parte da cidade. Desembocam ali seis ou sete ruas e avenidas. Existem dois semáforos. A solução então é, ou você corre como um atleta de corrida de obstáculos, ou demora cerca de uma hora para atravessar de um ponto ao outro. 

Bem, depois de uma cansativa e emocionante jornada cheguei à praça, ofegante e agradecendo aos céus por poder sentar e saber que a volta seria de carro!



PS. Não preciso dizer que a palavra "acessibilidade" ainda não foi introduzida no vocabulário das      autoridades de Campinas! Vi apenas duas guias rebaixadas para cadeiras de roda nesse caminho de 1,5km!


sábado, 12 de janeiro de 2013

O racionamento irracional

Anteontem, a grande mídia espalhou aos quatro ventos que estávamos à beira de um racionamento de energia elétrica. Os reservatórios das hidrelétricas estavam secando e as chuvas estavam demorando a chegar. Uma jornalista de um grande jornal chegou mesmo a divulgar a notícia de que uma reunião de emergência fora convocada em Brasília para discutir tão grave situação. Na verdade, tratava-se de um reunião ordinária do setor elétrico, já agendada para todo o ano de 2013 com as datas já predeterminadas desde o último ano!
Imediatamente, pessoas sérias e competentes,e mesmo o Ministro das Minas e Energia, descartaram essa previsão apocalíptica com explicações mais que convincentes de que a capacidade instalada aumentou nos últimos dez anos em mais de 50%, que foram construídas usinas termelétricas suficientes para garantir o suprimento à população, além da construção de milhares de quilômetros de linhas de transmissão, interligando os sistemas em todo o Brasil, permitindo a transferência de energia de uma região carente para outra com falta momentânea de capacidade geradora. É lógico que que falhas eventuais, até mesmo de grande porte ainda podem ocorrer. O Brasil é um país muito grande, sujeito a grande incidência de chuvas, raios e outros fenômenos naturais, além das inevitáveis falhas humanas e do modelo de controle do governo, ainda ineficaz, das concessionárias públicas e privadas. Só para ilustrar é bom lembrar que Nova Iorque teve grande parte da cidade com falta de energia por vários dias, depois da tempestade Sandy. Imagine se fosse no Brasil.
Não é preciso dizer o que aconteceu com as ações das companhias concessionárias. Tiveram uma queda acentuada na Bolsa de Valores. Mas, então, depois das manifestações oficiais e das de pessoas que entendem do assunto, bastou um dia de chuvas para que a mesma mídia anunciasse que os reservatórios já começavam a se recompor e que era muito improvável o advento de um  apagão "a la" 2001. Um dia de chuva! Em um dia o espectro do racionamento desapareceu! E as ações voltaram a crescer!
O título do post, é "O racionamento irracional". Será que foi assim tão irracional?